Ditadura da Estética: biomédica alerta sobre procedimentos para se sentir incluso(a)

“A ideia de alcançar o rosto e corpo perfeito adoece tanto fisicamente, quanto mentalmente”, diz especialista

Ao longo dos anos foi possível perceber o quanto o conceito de estética mudou por influências culturais, sociais e principalmente econômicas. Quando trazemos para o centro um assunto como o corpo, os fatores ligados à sociedade e o econômico estão diretamente relacionados ao que a sociedade conceituou de belo, colocando uma carga ainda maior naquilo que definimos como estética.

Presente nos processos de mudança, a união entre a indústria da beleza e os meios de comunicação ditam não somente os modos de se vestir, mas também a forma de enxergar nossos corpos. Esse processo acaba intensificando a manipulação e a venda de maneiras em que pessoas começam a se odiar, fazendo a prática do corpo perfeito ultrapassar todas as classes sociais.

Segundo o pensador Foucault, o controle da sociedade sobre os indivíduos não se opera simplesmente pela consciência ou pela ideologia, mas começa no corpo, com o corpo. Foi no biológico, no somático, no corporal que, antes de tudo, investiu na sociedade capitalista. O corpo é uma realidade bio-política. A medicina é uma estratégia bio-política.

Seguindo essa linha de pensamento, a Drª Jéssica Magalhães, biomédica com mais de 10 anos de experiência, reforça que a sociedade vive num imaginário de corpo perfeito. “A pressão estética para um padrão tido como “perfeito” é exercida em todos os meios de comunicação. No mundo atual onde o uso de redes sociais é intenso, a pressão exercida por eles também. A ideia de que precisa alcançar o rosto e corpo perfeitos adoece física e mentalmente”, pontua.

A biomédica acrescenta que o período pandêmico também foi responsável por esse aumento na procura de procedimentos, uma vez que as pessoas começaram a se olhar mais, a querer se cuidar mais. “Podemos ver um aumento expressivo na procura após o período de pandemia mundial enfrentado em 2020. Muitas pacientes relatam que passaram a olhar para si após o período e se permitir receber os cuidados para se sentirem bem com elas mesmas”, ressalta Drª Jéssica.

Conforme dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), somente no primeiro trimestre de 2022, houve um aumento de 390% na procura por procedimentos estéticos, em relação ao mesmo período do ano anterior. Na pesquisa 1.218 pessoas foram entrevistadas, dessas 80% informaram já ter feito algum procedimento estético, dados que reforçam o pensamento apontado pela biomédica.

Os números alarmantes ainda não são suficientes para boa parte da população começar a se interessar em entender os procedimentos a fundo e não de uma maneira superficial. Outro ponto que precisa de atenção, são os fatores que contribuem para as estatísticas de métodos mal feitos. De acordo com a especialista, a estética pode elevar a autoestima com naturalidade.

“Vemos muitos exemplos de procedimentos excessivos a partir de desvios de imagem que são aplaudidos como “bons resultados”. Nenhum deles deveriam estimular a distorção do corpo. Vejo alguns relatos de pessoas que admiram essa distorção e não percebem que já são perfeitas. A estética pode ser aliada para elevar a autoestima com naturalidade, sem criar seres novos”, ressalta a biomédica.

Ela também aponta que existe uma diferença entre homens e mulheres na procura de procedimentos. Dentre os mais requisitados estão a aplicação de toxina botulínica, o famoso botox, os bioestimuladores de colágeno e preenchedores. Além de métodos específicos. “Os homens procuram os mais específicos enquanto as mulheres buscam o cuidado geral do estado da pele e manutenção ao longo do tempo”, acrescenta.

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