Pandemia limitará acesso da mulher à aposentadoria, diz especialista

A desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho ficou ainda mais evidente durante a pandemia, quando a taxa de desemprego entre as mulheres bateu recorde, atingindo 17,9% no 1º trimestre de 2021, a maior da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE. Entre os homens, o índice ficou em 12,2%. “Muitas vagas para o público feminino foram fechadas pela crise econômica, mas boa parte delas ocorreu por causa do abandono e da responsabilidade quase exclusiva da mulher no cuidado da casa e dos filhos. Com as escolas fechadas, muitas trabalhadoras se viram impedidas de trabalhar por ter que cuidar dos filhos, uma realidade que é comum a milhões de mulheres”, afirma Thaís Cremasco, advogada especializada em Direito do Trabalho e Previdenciário e cofundadora do Coletivo Mulheres Pela Justiça (MPJ).

Pesquisa feita pelo IBGE sobre desigualdade de gênero no mercado de trabalho apontou que quase metade das mulheres com filhos de até 3 anos de idade deixa o trabalho se dedicar à maternidade. Segundo o estudo, o nível de participação de mulheres no mercado entre 25 e 49 anos cai de 67,2% para 54,6% quando elas vivem em casas com crianças menores de 3 anos de idade. A análise feita sobre os homens mostra realidade inversa: a participação no mercado para os que têm menores de 3 anos em casa é 89,2% e para os sem crianças, 83,4%.

Além de ocuparem espaço menor em cargos de liderança e de receberem salários inferiores aos dos homens, as mulheres ainda enfrentam um problema que, muitas vezes, as impede de conquistar o direito à aposentadoria. “Cuidar dos filhos não é visto pela legislação brasileira como uma ocupação, um trabalho. Nossa sociedade patriarcal delegou essa função às mulheres, que acumulam uma jornada dupla. Muitas delas, no entanto, não conseguem voltar ao mercado de trabalho depois do período de licença-maternidade e acabam negligenciadas pela Previdência Social”, afirma.

Essa realidade é reforçada também pela desigualdade na divisão de tarefas domésticas, que faz com que as mulheres trabalhem quase o dobro do tempo que os homens. “Durante a pandemia essa realidade ficou evidente. Uma pesquisa feita pela Catho mostrou que 92% das mães em home office são responsáveis por cuidar dos filhos. Essa realidade, aliada à falta de creches afasta muitas mães do mercado e terá efeitos devastadores no futuro de muitas mulheres, que não terão acesso à aposentadoria”, afirma a especialista em Direito Previdenciário.

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