Zelensky: da piada ao heroísmo

Ele está unindo a nação com seus discursos e selfies em vídeo, dando voz à raiva ucraniana na resistência à agressão russa.

Enquanto o presidente russo Vladimir Putin parece cada vez mais errático — acusando a Ucrânia de “genocídio” nas repúblicas separatistas de Donetsk e Luhansk, e falando da necessidade de “desnazificar” o país — o presidente Zelensky, de uma família judia de língua russa, mantém uma postura digna.

Seus pronunciamentos revelaram um lado que muitos críticos seus — incluindo vários da elite intelectual — não esperavam.

Um momento chave na transformação deste presidente — que vinha mal nas pesquisas e às vezes parecia estar abaixo da capacidade que o cargo exige — em uma liderança nacional aconteceu nas primeiras horas da quinta-feira, dia 24 de fevereiro, pouco antes da invasão russa. Em um discurso sóbrio postado nas mídias sociais, falando parcialmente em russo, ele disse que tentou ligar para Vladimir Putin para evitar uma guerra, mas que foi recebido com silêncio.

Vestindo um terno escuro em frente a um mapa da Ucrânia, ele disse que os dois países não precisam de uma guerra, “nem uma Guerra Fria, nem uma guerra quente, nem uma guerra híbrida”. Mas ele acrescentou que se os ucranianos fossem atacados, eles se defenderiam. “Quando você nos atacar, verá nossos rostos — não nossas costas, mas sim nossos rostos.”

Em sua próxima transmissão, ao meio do dia de sexta-feira, já após a invasão russa, ele usava uniforme militar, refletindo o clima de “Davi contra Golias” do conflito. Naquela noite, ele fez outro discurso, alertando os líderes de países como EUA e Reino Unido que, se eles não ajudassem no esforço contra os russos, “amanhã a guerra baterá em suas portas”.

“Este é o som de uma nova cortina de ferro, que desceu e está separando a Rússia do mundo civilizado.”

A chegada de Zelensky à cena política foi um caso de vida que imita a arte. Seu papel mais celebrado como ator cômico foi em 2015 na série de TV Servant of the People, na qual ele interpretou um professor de escola catapultado à Presidência depois que um aluno postou um vídeo viral dele falando sobre corrupção na política.

O presidente ucraniano tem muitos poderes, mas todos sabiam que cumprir essas promessas seria difícil. E para alguém que começou sua presidência com um índice de aprovação tão alto, o único caminho era para baixo.

Por outro lado, a corrupção continua profundamente enraizada na Ucrânia, e há preocupações de que uma nova lei anti-oligarca possa ser usada para restringir as atividades de alguns bilionários mas não de outros. Um sinal disso seria o indiciamento por corrupção do principal rival de Zelensky, Petro Poroshenko, seu antecessor como presidente.

“Quando uma cratera de bomba aparece no pátio da escola, as crianças perguntam: ‘O mundo se esqueceu dos erros do século 20?'”, disse ele.

Sua presença à frente da população de seu país é confirmada pelas selfies em vídeo que ele publicou do lado de fora do prédio presidencial e da famosa Casa das Quimeras, adornada com representações de animais exóticos e cenas de caça.

A Ucrânia ainda enfrenta condições muito pouco favoráveis nesta guerra. A força de invasão da Rússia é enorme e bem armada. Mas este bacharel em direito de 44 anos, um novato político, tem sido uma voz que está ajudando a elevar o moral ucraniano.

Zelensky de repente criou coragem em proporções cósmicas, e isso realmente reflete a atitude [nacional] em relação a ele agora!

Frederico Pace é empresário, atuante nas áreas de marketing, comunicação e digital publisher. Colunista da Revista Ideal nas áreas de business e economia.